Semiótica/CSH

A INSERÇÃO DA DISCIPLINA DE SEMIÓTICA NO CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

Inserida no 2º ano do curso de licenciatura de Ciências Sociais e Humanas da Universidade de Cabo Verde, a disciplina de Semiótica tem um carácter marcadamente crítico, reflexivo-epistemológico. Para além de analisar a actividade e dos processos comunicativos, constitui uma epistemologia do saber, ao indagar as condições de possibilidade da significação – A Semiótica é uma teoria da significação e deve, pois, cuidar de explicitar a forma de uma construção conceptual, as condições da percepção e da produção do sentido. Tendo esta feição estruturante, sem dúvida que a podemos associar às actividades profissionais para que os alunos se preparem como futuros cientistas nas organizações/sociedades humanas.

A disciplina torna-se importante, dada a necessidade de entender as actividades humanas, nomeadamente a comunicação (nas suas diversas vertentes) como sistema semiótico e a cultura como um conjunto unificado de sistemas, ou melhor, como um grande texto. Para isso, os semioticistas reelaboraram o conceito de língua, sem o qual seria impossível estender a noção de linguagem a uma diversidade de sistemas como mito, religião, literatura, teatro, artes, arquitectura, música, cinema, moda, ritos, comportamentos, enfim, os códigos e sistemas semióticos da cultura.

Tão importante quanto o conceito de língua é a concepção semiótica de código. Com base nessas noções, o relacionamento dinâmico entre os sistemas da cultura foi definido como um processo de modelização, segundo a qual a cultura é entendida como texto e a comunicação, como processo semiótico. A evolução dos conceitos, durante as duas décadas de trabalhos sistemáticos, evidencia como, no interior da disciplina, se organizaram instrumentos teóricos potenciais de uma ecologia cognitiva.

Se perspectivássemos a semiótica como a ciência dos sistemas de signos, o que é um entendimento de larga tradição – concordando com Roland Barthes de que a semiótica tem por objecto qualquer sistema de signos, sejam quais forem a sua substância ou os seus limites: as imagens, os gestos, os sons melódicos –, sem dúvida que teríamos uma ciência muito mais facilmente funcional. Tratar-se-ia, com efeito, de analisar regimes de signos, suportados pelos seus sistemas, os códigos e de trabalhar, entre outros, os conceitos de linguagem e significação, classificação e estruturação, codificação e descodificação. Sucumbindo, por sua vez, à "ideologia do operativismo" (Azevedo, 1995: 43), a linguagem seria informativa, dado o código contemplar todas as suas possibilidades combinatórias e ser possível a estrita descodificação de qualquer mensagem. Mas não é apenas este o caso, não circunscrevemos a semiótica ao regime do signo. Pensamo-la também na confluência de dois níveis semânticos não sígnicos: o da textualidade/discursividade e o da enunciação. E, enquanto que num caso acentuamos o domínio da escrita, o domínio do objecto textual e suspendemos a relação com o contexto, no outro, colocamos a ênfase nas dimensões da prática discursiva, interacção, intersubjectividade, reflexividade, intencionalidade e comunicação. Quer isto dizer tudo dizer, que pensamos a semiótica como a disciplina da significação que é recoberta por toda a espécie de distorções, truncagens, construções, que são o efeito da vida pulsional ou a trama da vida social. O acesso à significação passará, assim, pela remoção da evidência espessa do senso comum, através de uma reflexão de natureza transcendental.