terça-feira, 25 de maio de 2010

A SEMIOSE EM MORRIS E O PRINCÍPIO DA DIVISÃO DA SEMIÓTICA

Cabe a Morris o mérito de ter estabelecido a divisão da Semiótica em Sintáctica/Sintaxe, Semântica e Pragmática, decorrente da análise feita, por ele, do processo semiósico (na sua obra “Fundamentos da Teoria do Signo”, 1959), a partir dos estudos piercianos.

A teoria do signo de Morris é uma teoria de utilização do signo (em que algo funciona como um signo) e, em primeira aproximação, algo que orienta o comportamento. Assim, o processo pelo qual algo funciona como um signo pode ser chamado Semiose e envolve três (ou quatro) factores:

- Veículo Signo (aquilo que actua como um signo);
- Designatum (aquilo a que o signo se refere);
- Interprete/Interpretante (respectivamente, o intelecto, o alguém que interpreta / o efeito sobre o alguém (interpretante) em função do qual a coisa em questão é um signo para o interpretante. O interpretante é “dar-se-conta-de” por parte de um intérprete, pelo que se pode omitir).

Formalmente, teremos que S é um Signo de D para I, na medida em que I se dá conta de D em virtude da presença de S. Assim, a semiose é o processo em que alguém se dá conta de uma coisa mediante uma terceira. Trata-se de um “dar-se-conta-de” mediato (indirecto/através de outra coisa). Os mediadores são os veículos sígnicos os “dar-se-conta-de” são os interpretantes, os agentes do processo são os intérpretes.
Convém salientar que esta análise é puramente formal, ela não tem minimamente em conta a natureza do veículo sígnico, do designatum ou do intérprete. Os factores da semiose são factores relacionais, de tal ordem que só subsistem enquanto se impliquem uns aos outros. Só existe veículo sígnico se houver designatum e um interpretante correspondentes; e o mesmo vale para estes dois últimos factores: a existência de um deles implica a existência dos outros.

Desta relação triádica, podem ser extraídas outras diádicas, no que refere dos signos aos objectos a que se aplicam (Semântica), dos signos com os seus intérpretes (Pragmática) e ainda acrescenta-se a dimensão da semiose que contempla a relação dos signos entre si (Sintáctica/Sintaxe).

Cada uma dessas dimensões possui termos especiais para designar as respectivas relações. Assim, por exemplo, “implica” é um termo sintáctico, “designa” e “denota” são termos semânticos e “expressa” um termo pragmático. É deste modo que a palavra “mesa” implica (mas não designa/denota) a sua definição “mobília com um tampo horizontal em que podem ser colocadas coisas”, denota os objectos a que se aplica e expressa o pensamento do seu utilizador/intérprete. De dizer, no entanto, que há signos que se reduzem à função de implicação (Sintáctica) e, por conseguinte a sua dimensão Semântica é nula (ex. os signos matemáticos); há signos que se concentram totalmente na denotação e, portanto, não têm a dimensão Sintáctica; e há signos que não têm intérpretes efectivos, como é o caso das línguas mortas e, por conseguinte, não têm dimensão pragmática.


SINTÁCTICA/SINTAXE

Indica as categorias, os tipos, os grupos. São as unidades elementares, mínimas, básicas, simples sujeitos a qualquer combinação possível e que, depois, constituirão elementos complexos.

A ideia de sintáctica estabelecida por Morris estuda a maneira como os signos de várias classes se combinam de modo a formar signos. Ela abstrai da significação dos signos que estuda e dos respectivos usos e efeitos. Estuda os aspectos formais dos signos, as relações dos signos com outros signos, isto é, classes de signos com outras classes de signos e as formas de combinação de signos de modo a formar signos complexos, isto é, está incumbida de formar os signos de modo a obter, através da mera consideração dos signos, todas as consequências das ideias correspondentes, através do cálculo geral para determinar as combinações possíveis dos signos.

De certo modo, a sintáctica está para os sistemas sígnicos como a gramática está para uma língua natural. Não basta conhecer o significado das palavras; é também fundamental dominar as regras sintácticas da formação e transformação de signos mais complexos dentro da língua, como as proposições. Conhecer a sintaxe que preside a um sistema sígnico (seja ele qual for) é um dos princípios fundamentais da utilização desse sistema. É necessário o conhecimento das regras que presidem à organização e combinatória dos seus elementos


SEMÂNTICA

Normalmente entendida como a ciência do significado, ocupa-se da relação entre os signos com os objectos que eles denotam. O veículo sígnico em si é algo simples e a sua denotação dos outros objectos reside, basicamente, no facto de que há regras de uso que correlacionam duas séries de objectos. São, portanto, os processos e modos de conferir sentido. Determina sob que condições um signo é aplicável a um objecto ou a uma situação. “Um signo denota o quer que se conforma às condições estabelecidas na regra semântica, enquanto a própria regra estabelece as condições de designação e, desse modo, determina o designatum.” (Morris, 1959). Isto quer dizer que a dimensão semântica de um signo só existe na medida em que há regras semânticas que determinam a sua própria aplicabilidade a certas situações sob certas condições.

Vamos lá ver cá uma ideia: Um signo indexical (Indício) como o apontar estipula que o signo designa a qualquer momento aquilo que é apontado. Neste caso, o signo não caracteriza o que denota. Em contrapartida, ícones e símbolos caracterizam aquilo que designam. Se o signo caracterizar o objecto denotado por mostrar nele mesmo as propriedades que um objecto tem, como acontece com as fotografias, os mapas ou os diagramas químicos, então o signo é um ícone; se não for esse o caso, então trata-se de um símbolo.


Concentrem os neurónios, porque aqui é a parte da transição da Semântica para a Pragmática:

Entendendo a Semântica como a dimensão/ciência do significado, cabe dizer que há diversos significados de significado. Há significados que tentam apreender a essência do que significam (o significado de um signo é a coisa pelo qual o signo está, representa, exprime) e outros que investigam, sobretudo, o modo como operam esses significados. Teoria pragmática considera que o verdadeiro significado de uma palavra não está tanto no que se diz dela como no que se faz com ela. Traduzindo por miúdos, o significado de uma palavra, por exemplo, é o seu uso na língua. Explica tanto o sentido/significado a partir da actividade humana entendida como comportamento e acção. O significado de uma palavra é definido pela situação da enunciação da mesma, nomeadamente pelos estímulos que a provocam e pelas reacções que ela provoca.


A PRAGMÁTICA

Portanto, para além das dimensões Sintácticas e Semânticas na análise do processo da semiose, há a dimensão de contexto/situacional, de uma esfera que passa pelos usuários o signo (intérpretes). Este não é independente do processo que lhe torna dinâmico, das práticas reais. Assim, como a análise das formas sígnicas (Sintáctica/Sintaxe) é levada em consideração pelos valores Semânticos, a Pragmática deve considerar também a conjuntura/circunstância desses significados. Ao questionar o significado e, sobretudo, o sentido dos processos de semiose, os problemas vão surgindo nos diferentes modos de significar, como nos casos dos usos tomados pelo tipo referencial. Torna-se imprescindível realizar os marcos culturais em que esses processos ocorrem. Na Pragmática é importante o comportamento envolvido no funcionamento dos signos de acordo com o contexto social em que tais signos aparecem e funcionam. Os signos, adquirem valor semiótico concreto em cada uso, um sentido para além do que possa, por vezes, precisar nos limites tradicionais/convencionais do mesmo texto/contexto. Os sujeitos que participam de um processo situacional e circunstancial pragmático, criam inúmeras condições à língua: tons irónicos, sarcásticos, metafóricos, simbólicos, etc., o que origina esse valor referencial/contextual.

Pode-se então dizer, que a pragmática surge como um desenvolvimento imanente do processo semiósico, como consideração totalizadora de todos os aspectos do uso sígnico no processo semiosico. Quer-se com isto dizer que, tal como a análise das formas sígnicas (Sintáctica) leva, necessariamente à consideração dos valores semânticos como um critério para definir as unidades sintácticas, assim também a análise do significado induz à consideração das condições e situações da sua utilização. É que ao estudar as formas e as relações dos signos, somos levados, necessariamente, a ter em conta os valores semânticos como critério para definir as unidades, mesmo no plano estritamente formal. E ao analisar o significado e, sobretudo, o sentido dessas unidades e dos processos sémicos em geral, surgem problemas acerca dos diferentes modos de significar e sobre a forma em que os seus usos adoptam as relações de tipo referencial, ou as de iconicidade, ou os valores simbólicos, etc.; torna-se necessário determinar os marcos, sociais e culturais em que se são os processos semiosicos; as situações em que colhem significados os diferentes signos. Tanto as unidades sintácticas como o sentido dos textos (em seu sentido lato) estão vinculados à situação de uso, às circunstâncias em que se produz o processo de expressão, de comunicação, de interpretação dos signos objectivados num tempo, num espaço e numa sociedade, numa cultura.


Nota: Pelo já exposto, acrescento essa informação (que achei algures) que se torna lógica e importante para quem estuda Ciências Sociais e Humanas. Nada de novo mas que ajudar-vos-á: É que qualquer signo produzido e usado por um intérprete pode também servir para obter informações sobre esse/s intérprete/s. Tanto a psicologia, como o pragmatismo ou a sociologia do conhecimento interessam-se pelos signos devido ao valor de diagnose individual e social que a produção e utilização dos signos permitem.

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